Alistados no Exército de Deus
Acerca da guerra contra o diabo… Reparo que muitos cristãos ou têm medo de estudar acerca do tema ou acham que estarão a enaltecer satanás e de algum modo a diminuir a Deus. Deus nunca vai ser diminuído por estudarmos o que a Palavra de Deus nos ensina, porque foi Deus que nos deixou o ensino para que cumpramos a sua vontade perfeita acerca deste assunto. A Verdade continua a libertar em qualquer área, basta que estejamos expostos a ela.
A realidade da guerra espiritual
Logo que me converti, o líder da primeira igreja onde congreguei deu-nos um estudo bíblico acerca da Armadura do Cristão. Era baseado em Efésios 6. Na verdade, todo o capítulo é extraordinário pela informação que nos fornece. Vejamos os versículos que antecedem a descrição da armadura:
Finalmente, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes permanecer firmes contra as ciladas do Diabo; pois não é contra carne e sangue que temos que lutar, mas sim contra os principados, contra as potestades, conta os príncipes do mundo destas trevas, contra as hostes espirituais da iniquidade nas regiões celestes. (Efésios 6:10-12)
Note-se a antítese que Paulo nos dá: não lutamos contra carne e sangue, mas contra principados, etc. Tenho um amigo que defende que este texto refere os líderes com autoridade secular neste mundo. Ora, basta ler e interpretar o texto como ele está escrito… Estes principados e potestades não são carne e sangue, ou seja, não são humanos. Ainda é acrescentado que se encontram nas regiões celestes.
O texto enfatiza que estamos numa guerra, não contra seres humanos, mas contra seres espirituais. Depois descreve a armadura nos versículos seguintes que não vamos aqui estudar. Como dizia o meu primeiro pastor naquele estudo bíblico: “todo o convertido, quer tenha consciência ou não, alistou-se num exército”. Se assim é, então porque grande parte dos cristãos parece alheada desta guerra?
Muitos cristãos defendem que Cristo já venceu o diabo e agora não precisamos de fazer mais nada… Não nego que Cristo venceu o diabo, mas a guerra está longe de ter terminado. Assim nos transmite este texto chamando o ataque do inimigo contra os cristãos de: “astutas ciladas do diabo”.
A guerra da Igreja
Cristo despojou os principados através da sua morte e ressurreição:
e havendo riscado o escrito de dívida que havia contra nós nas suas ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o do meio de nós, cravando-o na cruz; e, tendo despojado os principados e potestades, os exibiu publicamente e deles triunfou na mesma cruz. (Colossenses 2:14-15)
A cruz de Cristo, além de muito mais, significou a remoção da autoridade satânica sobre a vida daquele que crê. Porém, o que isso significa? Sabemos que o convertido se torna filho de Deus (João 1:12) e herda a vida eterna. Este é o maior benefício que podemos imaginar, pois nada se pode comparar à salvação. Esta foi a maior derrota de satanás! Por isso está escrito que pela morte, Cristo derrotou aquele que tinha o poder da morte, o diabo (Hebreus 2:14).
É verdade que satanás foi derrotado, mas será que ficou completamente inoperante nas vidas dos cristãos? Não há dúvidas de que continua a operar no mundo, cegando o entendimento dos incrédulos (II Coríntios 4:4), matando, roubando, destruindo (tal como o mau pastor da parábola de João 10). Todavia, até que ponto o diabo pode afetar a vida do filho de Deus? O que diz a Bíblia sobre o assunto?
Além dos versículos de Efésios 6 acima, que dizem explicitamente que temos de lutar contra seres espirituais, a armadura é defensiva, mas também ofensiva (espada do espírito e a oração, Efésios 6:17-18). Somos chamados para guerrear por todos os santos com a Palavra de Deus e com a Oração. Vejamos que mais nos ensina o Novo Testamento:
Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne, pois as armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus, para demolição de fortalezas; derribando raciocínios e todo baluarte que se ergue contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência a Cristo; estando prontos para vingar toda desobediência, quando for cumprida a vossa obediência. (II Coríntios 10:3-6)
O apóstolo Paulo refere que embora estejamos ainda num corpo de carne, a forma como lutamos não é com armas carnais, ou seja, com armas como pistolas, metralhadoras ou mísseis. As nossas armas são espirituais para lutar contra os inimigos espirituais que referimos anteriormente.
Note-se que o ensino de Paulo é muito posterior à ressurreição de Cristo e destina-se às igrejas em geral, do seu tempo, mas aplicável também ao nosso tempo, pois também nos encontramos no período pós-ressurreição e antes da Segunda Vinda do Senhor.
Neste texto de II Coríntios, são indicadas armas espirituais para vencer no domínio da mente. A mente humana é apresentada como um campo de batalha onde é necessário recorrer a armas espirituais para destruir fortalezas malignas que são edificadas nas mentes. Poderá interpretar-se que estas mentes são as mentes dos incrédulos que precisam ter as suas fortalezas destruídas para crerem em Cristo. Pode ser uma aplicação, mas também parece ser indicado para toda a construção de pensamentos que não está de acordo com a Palavra de Deus. Um Cristão pode desenvolver uma fortaleza de pensamentos contrários à Palavra de Deus. As armas espirituais, como a Espada do Espírito, podem ser usadas para a sua destruição.
Até agora temos referência a guerra direta contra principados (Efésios 6) e guerra contra pensamentos (II Coríntios 10). Que mais nos pode o Novo Testamento ensinar?
O apóstolo Pedro avisa os cristãos contra o adversário:
Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário, o Diabo, anda em derredor, rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar; ao qual resisti firmes na fé, sabendo que os mesmos sofrimentos estão-se cumprindo entre os vossos irmãos no mundo. (I Pedro 5:8-9)
Pedro havia transmitido uma mensagem aos líderes e aos jovens. Depois, exorta todos à vigilância. Note-se a extensão a “todos os irmãos no mundo”. Ora, não o faria se os cristãos não corressem algum tipo de perigo. É preciso vigiar! Vigiar sobre o quê? O diabo andar ao derredor procurando encontrar alguém a quem possa destruir ou fazer mal. Pedro aconselha vigilância. Se recorrermos ao ensino paulino anterior, podemos perceber porque, em Efésios 6:18, somos incentivados a orar em todo o tempo por todos os santos, logo a seguir à referência da parte da armadura que é ofensiva contra o inimigo: a espada que é a Palavra.
Segundo Pedro devemos resistir ao diabo firmes na fé. É possível resistir ao diabo, mas implicitamente existe quem possa não resistir. Tiago é outra voz que nas Escrituras se une a Paulo e Pedro para nos ajudar no nosso assunto:
Sujeitai-vos, pois, a Deus; mas resisti ao Diabo, e ele fugirá de vós. (Tiago 4:7)
Será possível que em algum momento um cristão não esteja plenamente sujeito a Deus? Mesmo que esteja totalmente sujeito, Tiago ainda diz que é preciso resistir ao diabo, e então ele fugirá. Mas e se o cristão, por algum motivo falha em conseguir sujeitar-se ou resistir completamente? Será possível ele ser derrotado em alguma área, sem que isso tenha implicação na sua salvação? Parece que podemos entender isso por este texto e pelo anterior de Pedro.
Parece claro que a forma do diabo atacar o crente é em primeiro lugar para o levar a pecar. Veremos isso mais à frente quando recorrermos aos Evangelhos. Paulo parece abordar o tema ao dizer a Timóteo para escolher bem aquele que deseja o episcopado: “não neófito, para que não se ensoberbeça e venha a cair na condenação do Diabo” (I Timóteo 3:6). O diabo visa a condenação daquele que serve a Deus.
Comissionados por Cristo
A missão de Cristo é definida por João da seguinte forma: “Para isto o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do Diabo.” (I João 3:8). Todo o ministério terreno do Filho de Deus se pode pode resumir neste versículo. Cada vez que curava alguém, cada vez que expulsava um demónio, cada vez que alimentava o faminto ou fazia os homens sentir o seu incomparável amor, tudo isso era para desfazer as obras do diabo.
O diabo odeia o homem e alegra-se em vê-lo doente, infeliz, desesperado, morto e condenado ao inferno de preferência. Cristo atuou em todas as áreas e movia-se de íntima compaixão pelo homem. Tudo o que fez foi desafazer as obras do diabo e como ele não muda, é isso que continua a desejar para o homem, quando intercede diante do Pai (Romanos 8:34).
Cristo enviou os seus discípulos a fazerem as mesmas obras que ele fez quando os comissionou a continuarem a sua missão:
Disse-lhes, então, Jesus segunda vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós. (João 20:21)
Fomos enviados a pregar o Evangelho, claro que sim! O Evangelho implica a salvação, a vida eterna… Mas, quando olhamos para os eventos descritos no Novo Testamento, da Igreja pós-ressurreição, o que vemos os discípulos fazer? Não será o mesmo que o Mestre fazia? Paulo orava por cura e expulsou demónios tal como o Senhor… Não é isso que lemos no livro de Atos?
Para quem crê que a Igreja não perdeu o poder da ressurreição, não há como ignorar o Livro de Atos… Somos confrontados à missão de Cristo, viva, real, cheia de poder que não se apagou!
Quando lemos os Evangelhos, ficamos constrangidos cada vez que Jesus diz aos seus discípulos “ainda não tendes fé” (Marcos 4:40) e “homens de pouca fé” (Mateus 6:30; 8:26; 14:31; 16:8; 17:20; Lucas 12:28). O contexto destas “repreensões” era sempre relativa à timidez dos discípulos em assumir a missão de Cristo. Parece que para o Mestre, o Evangelho era algo que ia além da vida após a morte. Era algo maravilhoso, abundante, que começava em vida e depois se estendia para a vida eterna.
Os primeiros discípulos, após o Pentecostes, conseguiram perceber o que era o Evangelho e levaram essa fé viva por todo o mundo conhecido. Paulo disse que a sua pregação era acompanhada de demonstração de poder (I Coríntios 2:4). Precisaremos de um novo Pentecostes, para deixarmos de ser tímidos como os discípulos durante o ministério de Cristo?
Estamos em guerra, mas esta guerra não se limita à defesa pessoal. Há uma guerra espiritual em que multidões avançam para o abismo e podem ser alcançadas pelo poder de Deus dentro do Cristão. Talvez tenhamos de dar a vida, a energia e tudo quanto há em nós… Estaremos dispostos a entrar nesta guerra, ou vamos fazer de conta que ela não existe?